A centralidade e a valorização das pessoas é o fio conector das tendências
*Por Luís Márcio Araújo Ramos
Vivemos tempos de profundas mudanças no comportamento da comunidade global. Novas formas de consumo, concorrência acirrada, disputas pelos mercados, barreiras econômicas e muitas outras dinâmicas de um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (Vuca) nos passam uma sensação de permanente desorganização. Somos acometidos pelas dúvidas em relação aos melhores caminhos e incertezas quanto ao futuro das nossas empresas. Diante de tudo isso, como ser sustentável, perene e transmitir às futuras gerações os genes daqueles que nos idealizaram?
Estaremos cada vez mais sujeitos às novas tecnologias, robotização, inteligência artificial e outros importantes componentes da transformação digital, mas tudo isso somente tem sentido quando feito em benefício do próprio homem, da sua produtividade e da qualidade de vida.
Em meio à velocidade das transformações, nasce um forte movimento global de resgate e valorização do propósito empresarial e das pessoas. E isso parece fazer todo o sentido! A recente conferência da Society for Human Resource Management, maior encontro mundial de recursos humanos, trouxe importantes reflexões sobre a forma de inserção do capital humano nesta jornada de transformações. A centralidade e a valorização das pessoas é o fio conector das tendências.
Iniciativas de estímulo à diversidade e à pluralidade das formas de ser, pensar e agir suscitam novas ideias e trazem a inovação para o dia a dia das empresas. A diversidade tem sido encarada como uma forma de garantir a necessária renovação e evolução das práticas e comportamentos para fazer frente ao mundo Vuca. Novas gerações, apoiadas por tutores mais experientes, mulheres em posições gerenciais e de alta liderança, pessoas com deficiências, presença de todos os gêneros, raças e etnias são expressões da inclusão e do acolhimento ao amplo espectro das diferenças humanas, que ainda se deparam com padrões inconscientes e fortes barreiras. Estimulando ainda mais a prática de uma força de trabalho diversa, estudos começam a apresentar seus impactos na performance organizacional, demonstrando sua associação direta com a geração de resultados em todas as dimensões, inclusive financeiras.
Outra tendência é a constituição de uma agenda permanente de bem-estar e qualidade dos ambientes de trabalho. As jornadas e formas de exercê-las também mudam. Flexibilidade, informalidade e conectividade aparecem com força total. Os investimentos em saúde mental e felicidade chegam como importantes alavancas ao fortalecimento do engajamento e da geração de resultados, além da contribuição direta ao desenvolvimento da sociedade.
As empresas, por meio de seus líderes, precisam caminhar no sentido da ampliação da compreensão do negócio e de suas conexões. Criada uma empresa, ela se torna do mundo, das pessoas, das famílias, dos clientes e das comunidades. Torna-se ativo de todos e, o mais incrível, quanto maior essa capacidade, maior seu sucesso e valor.
As empresas que conseguem estabelecer suas conexões e transmitir com transparência e clareza o seu propósito, a razão mais profunda da sua existência – a sua alma – são capazes de “tornar o trabalho mais significativo, atrativo, motivante e reter pessoas excepcionais”, segundo Jim Collins, um dos maiores expoentes da administração contemporânea. Nesta perspectiva, tais empresas conseguem, seguramente, superar os desafios do hoje e construir pontes para o futuro.
A construção de espaços de confiança é uma distintiva competência capaz de gerar colaboração, produtividade, inovação e resultados. Estimular o desenvolvimento e a realização das pessoas, o pleno exercício do respeito. Incentivar ambientes favoráveis à criatividade, em que as pessoas sejam valorizadas por suas fortalezas e façam a diferença. Fazer a diferença para clientes, conhecer suas estratégias e participar dos seus desafios. Atuar com transparência junto aos stakeholders e às comunidades e ter muita coragem para assumir riscos e seguir em frente. Talvez estes sejam os caminhos para a perenidade. Então, vamos lá. Vamos ser de todos, ter propósito inspirador e deixar um forte legado!
*Luís Márcio Araújo Ramos é conselheiro da ABRH-MG e diretor executivo da Fundação São Francisco Xavier. Este artigo foi originalmente publicado no jornal O Tempo, no dia 17/10/2019