Por Marcelo Miranda
Conselheiro da ABRH e CEO da Consolis Tecnyconta
Estamos vivendo um momento em que as questões sociais e ambientais estão fortes nas pautas ideológicas, tudo muito polarizado. Mas vejo como um limite nos atermos a ideologias e partidarismos, quando o mercado e os investimentos estão gritando pela necessidade de nos atentarmos para uma maior responsabilidade das empresas nesses contextos.
Já escrevi outros artigos sobre liderança e responsabilidade socioambiental, mas senti necessidade de ampliar o tema por causa de uma sigla muito forte atualmente: ESG. Essas três letrinhas, que levam em conta os impactos ambientais, sociais e de governança (environmental, social e governance) estão pautando investimentos em todo o mundo. O assunto nunca esteve tão latente, e a pandemia acabou despertando ainda mais para essa necessidade, pelo potencial das corporações em lidar com crises e transformarem suas mentalidades.
Cada vez mais, o assunto deixa a mesa de especialistas e passa para a pauta dos gestores. Recentemente, a B3 e a S&P Dow Jones anunciaram o lançamento do índice S&P/B3 Brasil ESG, de forma a expor aos investidores, empresas com esses critérios. E a própria CVM afirmou que os “reguladores de todo o mundo analisam agenda ESG”. Já nessa matéria do Valor, vemos que os fundos com viés ESG, hoje com volume global de captação de US$ 220 bilhões, devem quintuplicar para US$ 1,2 trilhão até 2030.
O que eu quero dizer é que, atualmente, sem essa visão, credores pensam duas vezes na hora de fazer suas apostas em certas empresas. Por exemplo, no início do ano, a gigante BlackRock movimentou o mercado ao retirar seus investimentos de organizações em desacordo com questões ambientais, como a indústria de carvão.
Essa atitude dá espaço para propostas mais sustentáveis, uma vez que esse raciocínio tem tudo a ver com as classificações de risco na hora de apostar em uma empresa. Mas é muito importante uma análise criteriosa, pois ainda existem empresas que fazem como maquiagem, por marketing, sem integrar em suas práticas reais de gestão.
Esses e outros fatores estão fazendo coro para o papel micro e macro das corporações e como isso influencia no aporte de recursos que elas vão receber. No contexto global, já vemos ao redor de 30% dos recursos em fundos de investimentos atrelados a algum critério objetivo de ESG. No Brasil, ainda em menor escala, mas em forte crescimento.
Seja no Brasil, com problemas de preservação de suas florestas e com uma sociedade com tanta disparidade social, ou em várias partes do mundo com problemas diferentes, mas não menos complexos, hoje a gente não tem mais como fechar os olhos para a importância das práticas empresariais se alinharem à sustentabilidade.
Posso falar com mais propriedade da construção civil, que é minha área de atuação. Reconheço que é um setor de muito impacto ambiental, mas com grande potencial para inovação, por meio de avanços tecnológicos e de processo. Por outro lado, como grande gerador de emprego e renda, pode evoluir muito para promover melhorias em nossa
sociedade.
Naturalmente, vemos a força com que os critérios ESG estão se estabelecendo em 2020. É um movimento amplo e sem volta. Eu não acredito em sustentabilidade sem resultado, em performance sem propósito. A realidade é que as empresas podem entrar nesse movimento por dois motivos: por valores dos acionistas e dirigentes ou por pura pressão.
Paralelo a isso, vemos a força do empreendedorismo jovem no país. Esses empreendedores são parceiros das grandes empresas e, por isso, exigem posicionamentos no mesmo sentido. E, com isso, essa força começa a falar alto pelo lado financeiro. No Brasil, ainda estamos engatinhando, mas tudo indica que chega a passos largos. Ou seja, ainda há esperança, mas é preciso agir.
Sobre Marcelo Miranda
Marcelo Miranda é o CEO da Consolis Tecnyconta na Espanha, filial espanhola do grupo multinacional francês Consolis, É um executivo reconhecido na criação de inovações que levam ao desenvolvimento sustentável. Foi recentemente por 8 anos o CEO da Precon Engenharia. É Engenheiro Civil pela UFMG, com MBA em Stanford e especializações em Harvard, Columbia e Singularity University. Faz parte da lista dos 10 CEOs de destaque do Brasil com menos de 40 anos pela Revista Forbes, e foi eleito Executivo do Ano pela Revista Encontro em 2015. É conselheiro de empresas, da ABRH e do Capitalismo Consciente.