Por: Pedro Ramos – Diretor de Recursos Humanos do Grupo TAP Air Portugal/ Vice-Presidente da APG/ Presidente da DCH Portugal/ Membro Conselho Estratégico da ABRH Brasil/ Autor e docente universitário
Máquinas que falam com humanos, Empresas que vivem na casa dos seus colaboradores, Líderes que nunca sabem onde estão as suas Pessoas… Bem-vindos ao Admirável Mundo Novo!
Antes o Mundo era VUCA! Lembram-se quando o nosso mundo é (apenas) volátil, incerto, complexo e ambíguo? Eramos tão felizes a pensar que o máximo que nos podia acontecer era ir gerindo a progressiva desmaterialização ou “uberização” das empresas e, aqui e ali, ir integrando (alguma) inteligência artificial aos nossos processos de Gestão das Pessoas…
Mas eis que chegou o novo Mundo BANI (ou FANI, no nosso português). Os autores dizem que agora o nosso mundo é… Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível… O pior é que, pelos vistos, os autores têm mesmo razão e o que sentidos hoje é que a nossa atual realidade é a de um mundo organizacional completamente frágil, no qual nada pode ser garantido como verdade absoluta ou continuada, um mundo onde as respostas têm de ser urgentes e emergentes, dado que o fator tempo é uma ligação direta entre sucesso e insucesso, um mundo marcado por não ser evidente ou linear em termos daquele a que anteriormente estávamos habituados a obter como resultado da equação estímulo/resposta, e um mundo onde a dúvida e a incompreensão se instalou em grande escala.
Se há uma coisa que estes últimos tempos de pandemia têm ensinado aos líderes e liderados é que, por mais experiência anterior que cada um destes tenha tido, tanto lideres como liderados estão no nível básico no que toca ao conhecimento das melhores soluções que em cada momento seja necessário empreender face aos desafios dos atuais contextos turbulentos.
Todas as fórmulas anteriores usadas para respostas aos “velhos problemas” são inúteis. Lideres e liderados têm hoje uma certeza em comum: ninguém sabe nada quanto às melhores formas de enfrentar e responder a cada desafio que vai surgindo.
Há uma única verdade… A verdade é que lideres ou liderados estão exatamente na mesma página em branco…
Como fica, então, este desafio?
Líderes e liderados têm, sim, que, em face da sua experiência anterior, encontrar caminhos que de forma concertada possibilitem uma análise 360 graus dos desafios atuais e de eventuais sinais relacionados com os desafios futuros, que permitam com base numa competência cada vez mais crítica – flexibilidade cognitiva – permitam ir enquadramento e analisando os desafios sentidos nos atuais contextos organizacionais à luz de anteriores respostas e soluções que terão funcionando face a determinados pressupostos ou contextos e que, eventualmente, possam constituir a base da sustentabilidade de novas experiências e soluções organizacionais.
Mas o mais interessante deste processo, é que rapidamente passamos da tal fase em que as “empresas não estavam em lugar nenhum”, para uma nova fase em que as empresas estão em “qualquer lugar”, sobretudo na casa dos próprios trabalhadores, fruto de uma nova realidade, primeiro obrigatória, e agora, bem desejada, proporcionada pelo trabalho remoto (home office).
Mas… muito se tem falado sobre o futuro do mundo do trabalho que será marcado pela certeza de que será verdadeiramente Híbrido!
Na verdade, essa certeza advém de um ano e tal de experiência de trabalho remoto, por oposição a um anterior contexto quase sempre presencial.
Bem, mas quem disse que o futuro do trabalho será Híbrido, apenas por passar por um misto de presencial e remoto em termos da (nova) organização do trabalho?
Na minha opinião, o futuro imediato do mundo do trabalho será Híbrido não só fruto do resultado da dualidade presencial e não presencial do trabalho, mas também devido ao facto de, no futuro, o trabalho depender do resultado da interação entre Pessoas e Robots, em clara continuação do iniciado no contexto da quarta revolução industrial e que ficará marcado pela gestão de equipas mistas de pessoas e robots no qual cada um terá de “desempenhar” o seu papel, mobilizando o conjunto de competências críticas para o negócio. Sim, estamos mesmo a falar de Máquinas que falam com Humanos e vice-versa.
Desta forma, poderemos afirmar que o (tal) futuro também será Híbrido devido ao resultado de uma terceira equação: o produto da relação pragmática entre o Mundo Real Versus Mundo Virtual. A cada vez maior aplicação e recurso à IA na gestão e nos processos de organização de pessoas é hoje, como no futuro, uma constante; ainda mais que, neste futuro cada vez mais será necessário acelerar a flexibilização e a agilização dos processos, dos meios e das respostas dentro das nossas empresas, também estas cada vez mais desmaterializadas.
A agregação positiva destas duas inteligências – Inteligência artificial e Inteligência humana reforçarão certamente a natureza Híbrida das empresas do futuro ou, diria, das Empresas com Futuro!
Por ultimo, deixo aqui algumas notas que marcadamente estarão nas nossas maiores preocupações enquanto Gestores de Pessoas nos próximos tempos…
Como acabámos de aprender nestes últimos tempos, mais importante do que saber onde andam as nossas pessoas ou em que horários as podemos “controlar”, o próximo futuro vai ser o de reorganizar os próprios processos de trabalho, mais ágeis, mais digitais, mas também mais humanizados, adequando em cada momento “ao sabor” do que o Mundo BANI nos vai permitir e desafiar…
Desinstalar os (velhos) “softwares mentais” ou “mind sets” no que às formas de relacionamento diz respeito ajustando as inovadoras práticas e lógicas de serviço “guardadas” para os clientes, agora também proporcionando boas experiências aos colaboradores.
Inovar, (re)inventar e voltar a inovar sempre… no que às formas de liderar diz respeito. Sem medos, sem receios, surfar a onda da tecnologia com foco na dualidade “+ Digitalização” para obter “+ Humanização”!
Este é o “Admirável Mundo Novo” onde acabámos de chegar onde apenas três expressões têm lugar: Mudar, Mudar (ou) Ser Mudado!