*Por Eliane Ramos
Caro leitor, “vou te contar, os olhos já não podem ver coisas que só o coração pode entender; fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. Outro dia, visitei uma multinacional, dentre as melhores para se trabalhar, e me deparei com o cartaz afixado à entrada: “Aqui tem amor!”.
O que realmente toca os corações das pessoas? Se reunir com a família e os amigos, ler um poema de Lispector, assistir a um filme de Tornatore, ouvir uma música cantada por Sinatra ou exercer o nosso ofício profissional? Todas as opções, mas desde que, em cada uma delas, esteja presente o amor, esse que Guimarães Rosa diz ser “sede depois de se ter bem bebido …”.
É necessário falarmos mais de amor nas organizações. Acordar às segundas-feiras com desejo voraz de fazer acontecer porque você sabe que no seu ambiente de trabalho “tem amor”.
Em tempos de excesso de trabalho causador de distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, doença chamada de Síndrome de Burnout, devemos compartilhar a prevenção: o equilíbrio.
Segundo pesquisas, 84% dos executivos estão infelizes no trabalho. Alguns acessam e-mails e mensagens de WhatsApp profissionais fora do horário comercial, em vez de se reunirem com a família, os amigos, ou se emocionarem com poemas, filmes ou músicas. Sugestão: É preciso estar presente no que faz! Onde há amor, há saúde, que não é apenas a ausência da doença, mas é o estado completo de bem-estar físico, mental, espiritual e social.
Em 1979, o rei do Butão, país de 765 mil habitantes, decretou que seu povo não mais trabalharia com as medidas do Produto Interno Bruto (PIB), mas com Felicidade Interna Bruta (FIB). Para o restante do mundo, notadamente no Ocidente, essa ideia soou como loucura.
A riqueza material não é sinônimo de felicidade. Uma nação pode ser produtiva e estar financeiramente estável, mas não necessariamente as pessoas serão felizes. Os elementos básicos para calcular a FIB deveriam ser indiscriminada e globalmente adotados: saúde física, saúde mental, satisfação no trabalho, felicidade social, bem-estar político, bem-estar econômico e bem-estar ambiental.
E em relação às empresas, até que ponto é responsabilidade delas proporcionar felicidade aos seus colaboradores? O sujeito que não é protagonista da própria carreira, do seu desenvolvimento e da sua felicidade está perdendo tempo vital, investindo sua energia negativa em culpar os outros e não se autorresponsabilizando, o que geraria a energia positiva.
Fato: as empresas de sucesso estão buscando profissionais que almejem a autogestão. Se você está sendo selecionado, tenha certeza de que está reciprocamente escolhendo a sua organização
Em paráfrase ao grande poeta do rock brasileiro, antes das pessoas, é preciso se amar como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, há um presente para vivermos inteligentemente juntos.
É a chamada “Inteligência Social” (IS), ou seja, a capacidade de um indivíduo reagir de forma adequada aos mais variados contextos sociais, para que consiga manter relações saudáveis e frutíferas com outras pessoas – inclusive aquelas inseridas em uma cultura comum. A sua essência é a empatia e a compreensão das emoções do outro.
Com esses princípios, é possível construir alicerces para uma convivência pacífica, respeitosa e, sobretudo, amorosa, capaz de superar as diferenças e ir além das expectativas. Para viver como você deseja, seja em família ou profissionalmente, é preciso inteligência social.
Use essa poderosa habilidade para construir relacionamentos sólidos, transmitir conhecimentos e deixar legados grandiosos para aqueles que tiverem a oportunidade de transitar o mesmo caminho que o seu.
Se você ri frequentemente e muito, se tem o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças, se aprecia a beleza, se encontra o que há de excelente nos outros, se deixa o mundo melhor, se ama o que faz, você não é somente o “bem-sucedido” de que trata o filósofo Ralph Waldo Emerson. Saiba que você abraçou o verdadeiro sucesso, que é aquele forjado somente onde tem muito amor!
*Eliane Ramos é presidente da ABRH-MG
**Artigo originalmente publicado no jornal O Tempo, em 03/10/20