*Tito Borges
Existe vida após a pandemia. Será? Coletiva ou individualmente, vários países traçam planos para a retomada econômica após meses de distanciamento físico.
Evoluir, planejar e mobilizar são palavras que devem nos estimular de forma responsável e necessária para que a economia e a sociedade busquem respostas de produtividade, acolhimento e perenidade para esse momento.
Antes abordar sobre como devemos nos preparar para a retomada, compartilho parte do estudo elaborado pela equipe de Economia e Finanças Empresarias da FIEMG. Esta analise demonstra como a dificuldade de recuperação da atividade econômica tem sido uma situação crônica do Brasil e em Minas Gerais.
O cenário econômico apresenta retração dos índices de confiança de empresários e consumidores, uma piora nas ofertas do mercado de trabalho, a desvalorização cambial e redução do valor de commodities. Essa conjuntura enfraquece os indicadores que facilitam a estabilização para consequente crescimento.
Alguns dados setoriais, de nível nacional, reforçam a afirmação supra. Nos Serviços, dados publicados pela CIELO, considerando o período mar-20 a abr-20 registra retrações de 72,9% nas áreas de turismo e no transporte 72,9%, para bares e restaurantes foi de 54,6%.
No varejo, o vestuário -64,2%, móveis e eletrodomésticos -39,7% e, derivado da menor circulação da população os postos de gasolina registram queda de 31,7%. Na contramão os supermercados e hipermercados uma alta de 16,9%.
Em Minas Gerias, especificamente, as projeções para o setor de serviço caíram 8,8%. O mais afetado pelas medidas de isolamento físico (social), pela contração da renda e pela mudança de comportamento do consumidor. Forte queda também das atividades de comércio, turismo e alimentação. Já na agropecuária houve um aumento de 3,2% com alta de 26% na produção de café e de 10% na produção de soja.
Diante disto, temos oportunidades na indústria. A curto prazo, direcionar a capacidade produtiva para produtos e serviços da crise (máscaras, EPI e produtos de higienização). No médio e longo prazo, as empresas passarão a investir em fornecedores internos, mais próximos da produção e do consumidor final (desvalorização do Real e redução da globalização são motivadores).
Compreendendo cenários
Nas grandes crises, tanto o trabalho, como a tecnologia e as pessoas se revelam. No contexto do coronavírus não é diferente. Reconhecemos cada vez mais que pessoas fazem as organizações se moverem. Não importa a tecnologia, homens e mulheres engajados buscam resultados para suas organizações. Cada um de nós sabe que o maior patrimônio de uma organização é o seu capital humano e com o relaxamento dos protocolos de isolamento temos a necessidade de preparar o retorno às atividades, sejam presenciais ou não.
Assim, podemos afirmar que não estamos em home office e sim no teletrabalho imposto pela pandemia. Um modelo de home office deve agregar valor ao pacote da recompensa oferecido aos empregados, que contém o salário, incentivos, benefícios e o bem-estar.
Transformando aprendizagem em resultado
Como fazer desse momento uma etapa importante de aprendizagem – acertos e erros – para que as organizações e pessoas superem as dificuldades? De imediato, os gestores podem dar os primeiros passos, realizando a elaboração do plano da retomada. Mapear essas atividades nos auxilia a analisar a sua complexidade.
Reconhecemos que o cenário ainda é incerto e muitas variantes serão descobertas nesta fase de organização e planejamento. A execução deve conter em si lições aprendidas. Para superar os obstáculos e aumentar a assertividade da chegada do “novo normal” o benchmarkings e recentes pesquisas publicadas por escritórios reconhecidos, são importantes insumos.
Nesse momento, contar com informações que possam ser traduzidas em conhecimento será um diferencial competitivo. Conhecer o trabalho, sua especificidade – dificuldades e confortos – a realidade em que cada trabalhador está inserido será essencial para traçar uma jornada e contextos laborais. O conhecimento específico do trabalho e do trabalhador trazem conteúdos importantes para avançarmos rumo à produtividade: atenção às necessidades e situações particulares, respeito, empatia, relações de confiança para que ambos – organização e pessoas – estejam abertos ao diálogo franco, cuidado com a saúde e segurança. Não adianta ninguém vai sobreviver sozinho. Precisamos de buscar caminhos convergentes. Afinal, os relatos são de um alto nível de comprometimento com a sustentação plena das operações realizadas à distância.
Entretanto, existem atividades que são realizadas presencialmente e a indústria é um nítido exemplo do ambiente onde haverá circulação de pessoas. Adiciono a esta condição às realidades distintas das organizações onde os recursos financeiros, materiais, tecnológicos e a atividade fim tornam os planejamentos customizados.
Conhecendo a sua realidade
Alguns passos são comuns às empresas, independente do seu porte. Quando avaliada na ótica do gestor ou do empreendedor, conhecer profundamente e em detalhes o seu negócio é também um diferencial. Conhecimento ainda não é commodities. Quem souber extrair do caos informações, que geram resultados, dá saltos significativos para a perenidade das organizações.
Ao realizar o diagnóstico de seu modelo organizacional identifique quais são as posições-chave do processo. Reconhecer essas posições o auxiliará a tomar decisões com qualidade. Compreenda como a posição-chave agrega valor ao produto, seja qual for. Alguma atividade ou tarefa é relevante para a produção, venda ou serviço? Pondere sobre a real necessidade da execução presencial. Lembre-se, o home office deve gerar valor para o profissional. Também é uma oportunidade de rever custos com a estrutura física e contribuir com a eficiência operacional. Crises e oportunidades ainda são bons sinônimos. Assim, você terá uma fotografia atualizada de sua atividade-fim e dos recursos que a envolve.
Também, incluímos aqui uma ação que não deve acontecer somente em casos de exceção: estar próximo das pessoas que trabalham com você. Nesse momento, precisamos de método: entrevistar cada empregado e conhecer as condições vividas e como foi executado o trabalho durante o período em que ele esteve distante do ambiente físico laboral. Sondar se ficou exposto a situações de risco, se convive com pessoas do grupo de maior risco, se possui sintomas que caracterizam a covid-19, se está à vontade com o retorno gradual, qual o meio de transporte que utiliza para ir e vir, o que aprendeu sobre o trabalho nesse período. Como comentado anteriormente, para cada realidade, o fator censitário traz adaptações para representar o quadro social que a organização e as pessoas desenham, buscam e desejam. Ao consolidar as respostas haverá possibilidades efetivas de planejar a construção de um ambiente seguro e saudável para um retorno harmônico e produtivo.
Investir em equipamentos de segurança é uma obrigação. Fornecer EPI ou EPC dará conforto aos colegas de trabalho e também ao ambiente. Outra necessidade compulsória que complementa é a higienização dos postos de trabalho e dos locais públicos. Também, é importante sinalizar os espaços com marcações que mantenham o distanciamento de segurança, lembretes que incentivem os hábitos seguros como lavar as mãos e o uso do álcool em gel e a utilização das máscaras. Atualize-se constantemente com os protocolos de biossegurança informados pelas autoridades responsáveis, evitando a disseminação das fake News. Estamos vivendo um momento dinâmico e de transformações constantes.
Onde for possível, crie comitês de “boa convivência”, elabore e dê publicidade de protocolos de segurança com indicação dos contatos para comunicar a este grupo situações que demandem atenção adicional e evitem desconfortos. Cada ação exige cuidado e atenção.
Um pilar importante e considerado central é a comunicação interna. Planejar um cronograma robusto e transparente com informações, orientações e recomendações manterá o empregado e os demais públicos que frequentam a organização informado sobre práticas seguras.
Existindo possibilidade de constante contato com pessoas externas, é importante capacitar os empregados para abordarem os visitantes de maneira educada e responsável. Dessa forma, os empregados podem orientar os demais públicos para que eles também executem e respeitem o protocolo de convivência para superar o momento e contribuir para a aceleração da retomada.
Concluindo, cada um de nós deve se manter atento a divulgação de pesquisas sérias de instituições validadas por órgãos da saúde e do meio corporativo.
Nesse momento, tanto a organização, quanto às pessoas devem compreender que, juntos, podemos superar essa situação, buscando novos modelos de organização e trabalho comprometidos com uma que trará a “nova normalidade”.
*Tito Borges é executivo de recursos humanos e atua com gestão de carreiras e remuneração desde 2006. Graduado em administração de empresas, com especialização em gestão de negócios (FDC) e gestão criativa de negócios (FGV/IED), atualmente cursa Teologia intensiva (PUC).