Reflexões acerca do dilema que envolve as contradições entre competir e cooperar foram abordadas pela consultora e conselheira da ABRH-MG, Thelma Teixeira, neste artigo inédito para a Biblioteca ABRH. Boa leitura!
COMPETIR: EVOLUÇÃO OU INVOLUÇÃO?
Há algum tempo escrevi o artigo “Trabalho de equipe: uma questão de sobrevivência”, no qual enfatizei a importância da cooperação, através do trabalho grupal e de equipe, no desenvolvimento das pessoas e na sua sobrevivência.
Transcrevo o último parágrafo: “Na pré-história, os homens ameaçados pelos perigos, uniram-se para assegurar a sobrevivência, fazendo através do grupo, um uso inteligente dos atributos individuais. Hoje, as pessoas ameaçadas pelas incertezas, pela necessidade de respostas ágeis e inovadoras, novamente precisam unir suas competências individuais. Neste novo cenário o trabalho grupal evoluiu para o trabalho de equipe mas, assim como na pré-história, permanece como uma questão de sobrevivência”.
Tomo conhecimento, em reportagem do jornal Estado de Minas, publicada no dia 28/09/14, que pesquisadores da Universidade Estadual da Geórgia nos Estados Unidos, encontraram evidências de que a indignação com a injustiça praticada contra desconhecidos é uma característica evolutiva, que ajudou símios e humanos a viverem coletivamente, aumentando suas chances de sobrevivência.
Muito bom quando pesquisas científicas referendam as nossas crenças e valores.
Nos trabalhos de consultoria, utilizo sempre resultados de pesquisa para validar o que apresento. Nós, profissionais de desenvolvimento humano e organizacional, defendemos há anos, entre outras crenças, que “as pessoas que trabalham satisfeitas geram mais produtividade”. Depois que tive acesso a inúmeras pesquisas comprovando isso, comecei a apresentá-las e ao fazê-lo, costumo brincar dizendo: para vocês não falarem que isto (acreditar que pessoas felizes e satisfeitas são mais produtivas) é “coisa de psicólogo”, aí estão resultados de pesquisa.
Voltando à pesquisa citada, é muito interessante saber que humanos e símios protestam contra a injustiça praticada contra outros, mesmo que a situação não os afete diretamente. E que o fazem para preservar o sistema de cooperação.
Apesar de saber que não fazem isto por bondade (não posso usar a palavra humanidade, pois temos macacos envolvidos), mas porque são beneficiados pelo sistema de cooperação social para sua sobrevivência, é muito bom saber que a cooperação sobressai à competição.
Em outro artigo, A Beleza da Cooperação, escrevi: “a cooperação (operar com, fazer juntos), assim como a capacidade de mudança, e não a competição, foi o que fez as espécies sobreviverem e evoluírem, revelam estudos recentes da biologia, antropologia e psicologia”. Quando me referi às organizações escrevi: “os ambientes organizacionais são onde mais se fala e necessita de cooperação embora, quase sempre, ela esteja ausente da prática”.
A competição é um comportamento aprendido, cultural e não um fenômeno natural. Dizer que as pessoas são competitivas por natureza é um mito que não se sustenta nas pesquisas e estudos multidisciplinares. Ao contrário, estes demonstram que a maior parte das relações são essencialmente cooperativas. Para os céticos em relação a cooperação e defensores da competição, tudo isso é um significativo alerta.
Reforço com uma frase de um dos cientistas envolvidos na pesquisa e no estudo do tema: “Essa pressão pelo aumento da cooperação combinada com habilidades cognitivas avançadas e controle emocional permitiram aos humanos desenvolver um senso completo de justiça”.
Esta conclusão, numa época em que nos assusta o quanto o ser humano é capaz de cometer injustiça e exaltar a competição, além de muito importante para nossa autoestima nos ensina que temos dentro de nós o talento para a cooperação e justiça.
Agora é praticá-las, senão por humanidade, pelo menos para a sobrevivência.