*Betania Tanure
*Roberto Patrus
Uma das grandes oportunidades para uma empresa mudar a sua cultura é a crise. A crise atual oferece aos órgãos públicos, empresas e brasileiros uma chance inédita de mudar o seu jeito de ser e de fazer negócios, e na verdade, de viver. As empresas se veem forçadas a promover um processo de mudança radical e o governo precisa também entrar neste mesmo barco. Programas de Compliance são revisitados e implementados com mais vigor, com incentivo à denúncia de irregularidades e aplicação efetiva de códigos de ética.
O papel do Compliance é mitigar o alto risco de que o relacionamento com outras instituições propicie pagamento ou recebimento de vantagens ilícitas. Em processos viciados, antes corriqueiros, sua implantação estabelece uma ruptura radical.
Vamos a alguns exemplos que podem parecer banais: a facilidade de acesso a uma autoridade pública, por meio de uma visita informal, configura-se agora, à luz de um Programa de Compliance, como um risco para a empresa; em instituições públicas viciadas, o funcionário consciente dos riscos se vê obrigado a formalizar os encontros com executivos que possam configurar fornecimento de informação privilegiada.
Essa revolução na forma de relacionamento entre público e o privado retira poder e prestígio dos envolvidos. Alguns deles cresceram em função da sua habilidade relacional usada informalmente. Não é por acaso que muitos reagem. Muda o sistema de poder, mudam as competências requeridas.
Um argumento comum que revela a resistência aos processos de mudança radical, a exemplo do Compliance, é representado pela metáfora do pêndulo. Um corpo sustentado por um fio resistente quando solto, depois de afastado para a extremidade lateral, tende para o seu extremo oposto. A grande armadilha dessa metáfora é a tendência de o peso voltar ao ponto de equilíbrio depois de alguma oscilação. Trata-se de uma arapuca porque o ponto de equilíbrio estimula a tolerância com algum comportamento tido como não desejável. E corrompe a ideia de que a mudança é radical
Valer-se do pêndulo como metáfora é como dizer que o Compliance não é para valer. Essa visão pode ser interpretada como uma resistência à transformação ética da organização. Sem ingenuidade ou sem ser quixotescos é preciso assumir, individual, organizacionalmente ou como país, que a conformidade às leis não tem meio termo.
É fundamental reconhecer a resistência e dar-lhe o seu real significado. Interpretá-la é essencial para manter a diretriz de que o jeito antigo de fazer negócios não será tolerado, nem em doses moderadas. Insistir nessa metáfora é resistir à construção de um novo patamar de relação entre pessoas, empresas e órgãos públicos. É perder a imensa oportunidade de construirmos um país do qual nos orgulhemos! É a nossa vez, é a vez de fazer certo o que é certo!
*PhD-professores e consultores da BTA
Fonte original da publicação: Jornal Estadão: ABRH-Brasil / Pessoas de ValoRH