A “Geração Perennial” e o Homem Pós-Moderno

Por Eliane Ramos
Presidente da ABRH-MG e  do Conselho Estratégico de Recursos Humanos da ACMINAS

Os sábios da Grécia nos ocultaram mensagens sob enigmas mitológicos. Por exemplo, o parceiro de Tânato (a morte) era Geras, representado por um ser pequeno e enrugado pela velhice, olhando para um poço que continha um relógio de areia.

Até o poeta maior do Rock Nacional cantou que “os velhos vão perdendo a esperança com seus bichinhos de estimação e plantas”…

Hoje, pense em uma pessoa que você conheça, que tenha por volta de 60 anos. Aposto que ela não se sente correspondida em Geras ou tampouco naquela tradicional imagem do velhinho de bengala, que indica a fila preferencial no banco ou a vaga especial de estacionamento.

Logo, a pergunta a ser formulada é:  Quando as empresas vão começar a olhar com mais sabedoria a “Geração Perennial”, formada por aqueles que aproveitam a vida, o presente, sem tomarem a idade como fator limitador?

Em um planeta onde a diversidade é cada vez mais assimilada, basta de ismos! Etarismo, idadismo, machismo, racismo, todos os ismos. Felizes aqueles que enxergam o próximo a partir da sua essência, mas não da sua idade ou outros prejulgamentos de ordem geral. Chega dos preconceitos infelizes enraizados na nossa cultura, que se escancaram no jeito indigno de ser e agir, cujo convívio, aliás, torna mais difícil envelhecer do que a própria passagem do tempo.

Como de hábito, a jornalista Cris Guerra define muito bem: “Mas, mesmo com esse mundo caótico, eu vejo que amadurecer tem o seu lado bom, sim. Hoje, eu sei escolher melhor as batalhas que valem a pena, eu aprendi com o tempo e com a minha contadora a optar pelo simples. Envelhecer, não significa não poder mais fazer as coisas, mas também não é a certeza de que eu posso tudo, aliás, eu nunca pude. Mas, eu te garanto, eu não troco os meus 50 pelos meus 20”.

Estas pessoas que personificam a perenidade não limitam as suas vivências a aspectos geracionais, ou seja, não agem de acordo com padrões etários comportamentais preconcebidos, ao contrário, apresentam uma inquietação interna, têm vontade de aprender novas coisas, se reinventando a cada dia. Possuem o desejo e a habilidade de se relacionarem com as diferentes idades e buscam sempre o seu autodesenvolvimento, em antítese a alguns contemporâneos, que vivem a chamada ”síndrome de espectador”, passando a vida à espera de que alguém ou algo faça as coisas acontecerem por eles.

Em dias de imersão reflexiva sobre a nossa autopreservação, a Covid-19 nos leva à necessidade crucial de transformação do homem, mutação que não tem nada a ver com tecnologia, sabiam? O foco central deverá ser as pessoas.  Então, não faz sentido rotulá-las, tal como acima de 8, 80 ou x anos, pois, para ilustrar, se os nativos digitais são os nascidos depois de 1980, todos acompanhamos o desenvolvimento do analógico para o digital e muitos se adaptaram, independentemente da idade. Esses são os que têm a mente aberta, como um paraquedas, possuem flexibilidade cognitiva e são indivíduos com dose da inteligência emocional, prontos para enfrentarem o “Zeitgest” (espírito da época), no mundo que agora chamamos de “BANI” – Brittle (Frágil),  Anxious (Ansioso), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (Incompreensível).

Classificar as habilidades de qualquer pessoa por causa da sua idade é uma abominável atitude etarista. Esse preconceito pode fazer com que empresas deixem de contratar grandes talentos para os seus times. Profissionais com aptidão comportamental para compor a sua equipe, trazendo bagagem de conhecimento, experiências, sabedoria, maturidade e que, certamente, estão no auge da sua carreira.  Sem falar no networking que formaram durante a sua trajetória.  Se sentem jovens desde sempre, cabeça ativa, saúdes física, mental, social e espiritual bem equilibradas.

Não duvide: Sobreviveremos às doenças e às demais desgraças autodestrutivas que nós mesmos criamos, somos comprovadamente resilientes e, agora, perenes, mas devemos almejar muito mais, vamos, necessariamente, evoluir como espécie, rumo ao ideal de homem pós-moderno, tal como aquela personagem do futuro imaginada pelo pensador romeno, Mircea Eliade, em sua magistral novela, “Uma Outra Juventude”, que narra a trajetória de um octogenário Professor, Dominic Matei, que, após ser atingido por um raio, rejuvenesce e, misteriosamente, adquire poderes e faculdades mentais que a humanidade levaria milênios para conquistar.

Então, neste mês de março, que celebramos o “Dia Internacional da Mulher”, relembramos: Não tenha medo das críticas das outras mulheres e nunca critique as outras. Seja feliz, do seu jeito, não nos cabe julgar. Napoleon Hill nos alerta: “A vitória é sempre possível para a pessoa que se recusa a parar de lutar”. Continue a investir nos seus projetos de vida, a longevidade veio para ficar. E, somente assim, igual a Dominic Matei após ser atingido por um raio, como homens pós-modernos, sintamos despertado o real e transformador fogo da criação.

Sobre Eliane Ramos de Vasconcellos Paes

  • Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Minas Gerais (ABRH-MG).
  • Presidente do Conselho Estratégico de Recursos Humanos da ACMINAS.
  • Professora convidada da Fundação Dom Cabral (FDC).
  • Diretora regional do Grupo Arquitetura Humana/PI Brasil.

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