O mundo do trabalho está mudando rapidamente

*Por Vanderlei Raffi Schiller

O mundo do trabalho está mudando rapidamente. Automação e Inteligência Artificial (IA) são as estrelas sobre as quais uma onda de mudanças sem precedentes vem acontecendo, gerando um movimento de expectativas e demandas das pessoas e das organizações. Recentes pesquisas têm revelado o seguinte:

– O mundo do trabalho vai depender cada vez mais, além das habilidades técnicas, de um conjunto bem mais desenvolvido de habilidades essencialmente humanas. Empatia, inteligência emocional, criatividade, colaboração, comunicação, estão entre as mais requisitadas. Os recrutadores têm, no entanto, um grande desafio, que é o de identificar essas habilidades, não tão evidentes e normalmente mostradas em situações reais de trabalho.

– A flexibilidade dos esquemas de trabalho tem crescido, juntamente com a evolução das regulamentações a respeito. Quanto mais rápido as organizações se adaptarem a esse cenário, mais competitivas serão, aumentando sua proposta de valor do emprego e sua marca empregadora. A tecnologia é a grande habilitadora, a base geográfica das pessoas se tornou cada vez menos importante, mas a mudança de atitudes está gerando uma ressignificação do conceito de um “trabalho para quase toda a vida” para “maior equilíbrio”, exigindo assim flexibilidade. Para as organizações, é uma oportunidade de reduzir seus custos com locais de trabalho.

– “Bullying” e outras formas de assédio estão cada vez mais sob a mira dos códigos de conduta e regras de compliance, criando culturas organizacionais mais apoiadoras e inclusivas, fortalecendo aqueles que precisam de ajuda e aplicando uma gestão de consequências que vai provendo novos contornos ao ambiente organizacional.

– O segredo sobre as remunerações pagas está gradualmente desaparecendo. O propósito é buscar reduzir a negatividade e a suspeição e aumentar a transparência, o que virá em benefício da redução da inequidade, por exemplo, entre homens e mulheres, além da melhoria do ambiente de confiança.

Possíveis soluções para o futuro estão nascendo a partir das inúmeras discussões em andamento, mas a principal delas deveria ser sobre como gerar resultados cujo impacto seja o mais inclusivo possível. Alguns temas são relevantes:

– Repensar a educação: mudanças tecnológicas geram necessidade de aprendizagem de novas habilidades, rapidamente. Nosso sistema de educação é muito lento na resposta às mudanças. Se a aprendizagem não acompanhar o ritmo das mudanças, o risco é a obsolescência. Além do mais, o nosso sistema deveria equipar as pessoas com habilidades as quais as máquinas não fazem, como empreendedorismo, trabalho em equipe, curiosidade e adaptabilidade. Para o futuro, as habilidades serão muito mais importantes que o “pedigree” do curso universitário.

– Flexibilidade e liberdade: trabalhar num escritório nem sempre é possível, nem prático. Hoje, de 20% a 30% da população em idade de trabalhar nos Estados Unidos prestam trabalho independente, proporção ainda maior em mercados emergentes. Promover trabalho remoto e horário flexível poderia inclusive ajudar na participação da mulher na força de trabalho.

– O valor da colaboração: organizações podem se beneficiar da otimização entre humanos e Inteligência Artificial, reimaginando processos de negócios, experimentando e redesenhando o trabalho para incorporar a IA. Uma pesquisa mostrou que quanto mais esses princípios são aplicados, melhores são os resultados obtidos com a adoção da IA, com mais velocidade, menores custos e outros indicadores operacionais. Para tirar vantagem dessa integração, é preciso entender como as máquinas podem alavancar as habilidades humanas ao máximo e como redesenhar processos de negócios para concretizar essa integração.

Importante relembrar o significado do trabalho, que representa para os indivíduos não apenas a forma de ganhar a vida, mas importante fonte de identificação ante seus grupos, pares e sociedade como um todo, constituindo forma de inserção social. O sentido do trabalho engloba várias perspectivas psicológicas, sociais e econômicas, que não se alteraram com o passar do tempo, de forma que são as profissões que estão se tornando redundantes, não as pessoas; e ao final, não será a tecnologia, mas sim as pessoas que delinearão o futuro do trabalho.

 

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