Autoestima: leve a sua para o trabalho

Autoestima: leve a sua para o trabalho

Autoconfiança, vitórias, fracassos, reinvenção… Esses são apenas alguns dos assuntos presentes neste artigo assinado pela escritora Cris Guerra. Vale a pena a leitura!

2014 vai ficar marcado na memória dos brasileiros como o ano da maior derrota de uma seleção canarinha em toda a história das copas – intensificada por ter sido dentro de casa. Uma dura lição de autoestima que me remeteu à venda bilionária do aplicativo WhatsApp para o Facebook, no início do ano.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Explico.

Em 2009, Brian Acton tentou ser admitido como programador no Twitter. Ao falhar, não se abate e publicou uma mensagem na própria plataforma: “Fui rejeitado no Twitter. Tudo bem. Teria sido uma longa jornada”. No mesmo ano, foi reprovado no processo de seleção do Facebook. Mais uma vez registrou no microblog: “Foi uma grande oportunidade de me conectar com pessoas fantásticas. Estou na expectativa da próxima aventura”. A aventura estava prestes a acontecer: no mesmo ano, em parceria com o ucraniano Jam Koum, Brian Acton criou o WhatsApp, que foi depois vendido por 19 bilhões de dólares – 12 bilhões deles em ações do Facebook. Anos depois de ser rejeitado como empregado, Brian Acton ingressou no empresa como acionista.

Será que o desfecho teria sido o mesmo sem a caprichada dose de autoconfiança de Brian? Nossa sociedade exibe conquistas e esconde fracassos. Mas de que são feitas as vitórias, senão de uma sucessão de tentativas que falharam? O que distingue um perdedor de um vencedor é a forma de lidar com o fracasso. E um ingrediente que pesa nessa fórmula é a autoestima.

A autoestima representa não o que os outros pensam e sentem a seu respeito, mas o que você pensa e sente sobre si mesmo. O indivíduo que se valoriza não se mede por suas conquistas ou fracassos, tristezas ou alegrias – aspectos oscilantes –, e sim por algo mais permanente: a autoestima. Esse indivíduo conhece o respeito como uma via de mão dupla, tem empatia; sabe a diferença entre ser respeitado e ser temido e prefere a primeira opção. Esse indivíduo se ama de verdade e mostra ao mundo que é digno de amor: uma consequência direta de estar bem consigo mesmo.

A ausência de autoestima pode dar lugar à vaidade: uma constante necessidade de autoafirmação, sempre insuficiente para trazer segurança. Vaidosos ouvem pouco e falam muito, querem todos os holofotes para si. Já os autoconfiantes se orgulham de suas conquistas e acreditam que todos podem brilhar.

Em uma equipe de trabalho, os vaidosos fingem autoconfiança para evitar ameaças, geram conflitos e desfocam o objetivo. Já os autoconfiantes praticam a “generosidade corporativa”, vendo o ambiente profissional como um ecossistema que pode crescer com o compartilhamento de recursos.

Vale lembrar que compartilhar com o outro não significa deixar faltar para si. O indivíduo de autoestima equilibrada sabe dizer não. O excessivamente generoso se dá de forma desmedida, desviando-se de seus objetivos. Por não confiar em si mesmo, faz tudo para conquistar a predileção dos colegas e se torna improdutivo.

Nosso objetivo não é nem um extremo, nem outro, e sim o equilíbrio. Uma equipe de autoconfiantes resulta em uma equipe de generosos: um grupo de pessoas competentes e não um time dependente de um ou dois craques, caso da Seleção Brasileira de 2014. Grandes equipes são construídas com base nas diferenças individuais, pois as características complementares é que formam um time completo.

Mas como se dá a construção da autoestima? Especialistas acreditam que a base da segurança de um indivíduo é passada quando ele ainda é bebê, através do cuidado dos pais. A esses primeiros momentos somam-se uma série de experiências sociais que, juntas, ajudam a construir a visão que cada um tem de si mesmo.

É impossível mudar o passado, mas é possível reconstruir – ou ajustar – essa visão. A chave está na perspectiva: em vez de modificar a forma como é visto pelos outros, o indivíduo deve investir na mudança da sua própria maneira de se enxergar. Para isso, é necessário entender que somos o que fomos capazes de fazer, mas também o que ainda temos potencial para realizar. Inverter a lógica é trabalho árduo e quanto mais enraizada é a autoimagem equivocada, mais esforços serão necessários para desconstruí-la.

Um currículo com fluência em quatro línguas, pós-graduação, mestrado e doutorado será apenas uma carcaça frágil se trazida por um indivíduo inseguro. De nada adianta um grande potencial com um baixo aproveitamento. Por isso é tão importante que uma empresa invista na autoestima de seus colaboradores. Uma equipe equilibrada é formada por um grupo de pessoas bem humoradas, dispostas, entusiasmadas, que sabem se relacionar com seus pares. Pessoas com habilidade para resolver problemas e serenidade e resiliência para enfrentar desafios.

Eu sei, você pode estar se perguntando: “Por que eu investiria na autoestima do meu colaborador, se posso perdê-lo amanhã?” Bom, se você pensa assim, quem anda merecendo atenção é a autoestima da sua empresa.

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