As semelhanças entre gerir uma equipe esportiva e pessoas em uma empresa são grandes, mesmo que a natureza de cada função seja completamente diferente. A especialista em desenvolvimento humano, Jéssica Martins, propõe, no artigo a seguir, boas reflexões sobre essas afinidades. Vale a pena conferir!
NO ESPORTE COMO NAS ORGANIZAÇÕES: A IMPORTÂNCIA DE ENCONTRAR MOTIVOS PARA ENGAJAR-SE
Depois de quase oito anos trabalhando em empresas, descobri o quanto esta experiência é capaz de contribuir para a compreensão de alguns aspectos do esporte. Como profissional de gestão de pessoas, nos dedicamos a reter e desenvolver talentos, desenrolar conflitos, direcionar lideranças e engajar pessoas para que resultados possam ser alcançados. Diante disso, ao observar algumas partidas de futebol descobri o quão agregador esta experiência pode ser para a compreensão dos conflitos e desafios enfrentados neste contexto.
O cenário empresarial e o mundo dos esportes vivenciam situações semelhantes. Ambos buscam constantemente atuações de alto desempenho e entrega de resultados significativos e para tanto precisam do capital humano para protagonizar a construção dos caminhos que levam ao alcance dos objetivos.
Além disso, percebo como semelhança a composição das equipes, pois é possível mapear perfis diferentes e complementares que contribuem cada um da sua maneira. Nessas equipes é possível identificar profissionais com maior habilidade técnica, outros com mais determinação e interesse, e ainda como nos campos de futebol temos a figura do técnico com o papel de orientar, direcionar, reprimir e desenvolver seus atletas assim como nos times das organizações. Encontramos também a figura do juiz, que tem o papel fundamental de delimitar os aspectos do jogo assim como nas organizações representados por códigos de conduta e ética, por exemplo.
Diante de situações e profissionais com tantas similaridades, os desafios não poderiam, portanto, mostrar grandes diferenças. Embora tenhamos a possibilidade de estudar várias perspectivas considerando estas semelhanças, abordaremos a priori uma hipótese que eleva o potencial de realização do profissional.
Recentemente fiz a leitura do livro “Transformando Suor em Ouro”, do reconhecido técnico Bernadinho. Me identifico com a estrutura de pensamento sobre engajamento relatada por ele, citada por vezes como “paixão” e entendo que para chegar a este nível de entrega é preciso ter um motivo.
Acredito que para qualquer relacionamento que escolhemos, para cada atitude que demonstramos, ou ainda, para cada trabalho que nos propusemos a fazer, precisamos de um motivo que nos faça encarar toda e qualquer dificuldade destas escolhas. Sendo assim, o engajamento vai depender do quanto você acredita no seu motivo de se vincular a algo ou a alguém e é ele que vai potencializar o seu impulso para realização.
Sendo assim, considero importante que cada um possa identificar os seus motivos de modo a garantir total engajamento na busca por resultados, e no caso de um líder, este deverá encontrar na equipe as suas motivações para conseguir compreender o que os impulsiona no alcance dos objetivos. Este é, portanto, o primeiro passo para que o sucesso individual, de uma equipe ou de uma empresa, possa ser minuciosamente construído.
Conheci recentemente a história e as contribuições de Masaru Ibuka, um visionário japonês aclamado por seu desejo de inovação que colaborou para a revolução da indústria de eletrônicos quando criou a Sony. Ele acreditava que deveria haver um cerne para “fazer as coisas” e perpetuou esta cultura como premissa de um ambiente de trabalho prazeroso e que assim terá potencial para atingir a excelência, mas que para tanto, dentro de um contexto empresarial, é preciso ter consciência da missão de seus profissionais.
O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi estudou os motivos que fazem com que a vida possa valer a pena e chegou a uma explicação subjetiva, mas relevante, de que o significado da vida é qualquer coisa que seja significante para você. O momento em que as pessoas sentem que algo faz sentido e sentem prazer na sua realização, denominado estado de Flow, segundo ele. Neste estágio você estará completamente envolvido e identificado com a causa, pois terá motivos para realizar.
Concluo, assim, que nos campos ou nas empresas, os profissionais que conseguem identificar seus motivos, tendem a se dedicar mais e obter resultados melhores. Entretanto é claro que não é tão simples esta tarefa, uma vez que trata-se de administrar expectativas, talentos, problemas e habilidades. Mas será um primeiro passo para a busca da realização e da excelência.