Imprensa

Quando responsabilidade vira Inspiração

Você já ouviu falar em accountability? Embora o termo seja comum em ambientes corporativos, ainda é cercado de confusão. Muitos o associam à simples cobrança de resultados ou até à busca por culpados quando algo dá errado. Mas, na essência, accountability é sobre protagonismo. É uma atitude de responsabilidade consciente, em que líderes e colaboradores assumem seus compromissos com autonomia, ética e disposição para aprender com os erros.

Esse conceito, que costuma ser mais mencionado em empresas com culturas sólidas e eficientes, é especialmente importante dentro do setor de Recursos Humanos (RH). Afinal, o RH é o coração da cultura organizacional, e tem a missão de cultivar ambientes onde a confiança, a clareza e a colaboração florescem. Mais do que aplicar processos, o RH deve ser um agente de transformação, mostrando que responsabilidade não é sobre controle, mas sobre engajamento genuíno.

Ainda é comum confundir accountability com pressão por resultados. Mas existe uma diferença importante: a cobrança tradicional gira em torno de “entregar ou justificar”. Já accountability é assumir a jornada inteira — desde planejar e executar até refletir, corrigir e evoluir. Um líder que exerce esse tipo de responsabilidade não apenas espera desempenho da equipe, mas participa, apoia, escuta e dá o exemplo. Esse tipo de liderança inspira comprometimento, porque convida as pessoas a serem protagonistas, e não meros executores.

Quando o medo de errar prevalece, as pessoas se retraem. Esse tipo de cultura tende a centralizar decisões, evitar feedbacks difíceis e, muitas vezes, tolerar condutas desalinhadas em nome de resultados. Isso corrói a confiança e enfraquece o senso de dono nas equipes. Cabe ao RH identificar esses sinais — muitas vezes sutis — e agir com consistência para promover a transformação cultural. Mais do que identificar problemas, o RH também tem uma função pedagógica: educar lideranças. É preciso mostrar a diferença entre responsabilizar e punir, entre inspirar e controlar. Isso significa ajudar os líderes a revisarem comportamentos bem-intencionados, mas que minam a autonomia da equipe — como evitar conversas difíceis, centralizar todas as decisões ou fazer vista grossa a práticas desalinhadas. Essas ações, por mais sutis que pareçam, comprometem a cultura e limitam o crescimento coletivo.

Mas como medir accountability de forma prática? Não basta olhar apenas para números. É preciso observar atitudes: equipes comprometidas com prazos, que assumem erros, que colaboram, que falam com franqueza e que alinham discurso com prática. Ambientes assim são marcados por conversas francas, feedbacks naturais e uma cultura de confiança mútua. O RH pode desenvolver rituais de escuta, avaliação comportamental e ações de cultura que reforcem esse tipo de comportamento.

Mudar uma cultura marcada pela culpa para outra de responsabilidade compartilhada é possível — e urgente. Isso exige que a liderança abandone modelos centrados no controle e revise atitudes, práticas e linguagem. O RH tem papel essencial nesse processo, promovendo confiança, diálogo e os comportamentos que sustentam a cultura desejada.

Para as novas gerações no mercado — como os millennials e a geração Z —, accountability só faz sentido quando está conectado a propósito. Esses profissionais querem entender por que fazem o que fazem, buscam autonomia com apoio, valorizam feedbacks humanos e exigem coerência entre o que se diz e o que se pratica. Cabe ao RH escutar ativamente essas novas dinâmicas e preparar líderes capazes de se conectar de forma empática e verdadeira com suas equipes.

Cultivar accountability é inspirar, não impor. O líder que mais contribui com essa cultura é o que escuta, orienta, aprende com os erros e age com coerência. Com o RH como guia, a responsabilidade floresce com confiança, e o desempenho se torna sustentável, porque anda junto com o desenvolvimento humano.

Lílian Bonsanto

Lílian Bonsanto

Embaixadora da ABRH-MG

Últimas Publicações

plugins premium WordPress