O varejo é, por natureza, um setor dinâmico, competitivo e marcado por grandes desafios humanos e organizacionais. Nesse contexto, a liderança de Gente e Gestão assume um papel estratégico para sustentar resultados, impulsionar engajamento e garantir que as pessoas estejam no centro das decisões.
Entre os maiores desafios está a captação e retenção de talentos. Conciliar fit cultural em um mercado de alta competitividade e lidar com os impactos da pluralidade de perfis exige cada vez mais preparo e inovação. Estudos apontam que a taxa de attrition (mede o percentual de colaboradores que deixam a empresa em um período) no varejo pode ser até 70% superior à média de outros segmentos, o que pressiona as empresas a buscarem soluções criativas para manter sua força de trabalho estável. Some-se a isso o fato de que 24% dos líderes de RH relatam dificuldade em encontrar profissionais com as habilidades adequadas, cenário agravado pela sazonalidade e pela necessidade de mão de obra qualificada. Antecipar demandas de recrutamento, adotar abordagens baseadas em competências e utilizar a inteligência artificial como aliada são caminhos que ajudam a reduzir turnover em até 30%, segundo a Korn Ferry. Mas nada substitui o papel das lideranças na retenção, ao promoverem engajamento e desenvolvimento contínuo.
Equilibrar eficiência operacional com cuidado com as pessoas também é um ponto central. Na Coffee++, estamos avançando com a frente de consolidação de uma cultura de feedback estruturado, capacitando líderes a conduzirem conversas regulares de desenvolvimento e carreira. Essa prática, segundo a Gallup, pode elevar o engajamento em até 20% e se mostra essencial em um setor no qual o engajamento global caiu para 21% em 2024. Outra frente estratégica é combinar um modelo de remuneração variável competitivo, que conecta as metas de crescimento do negócio com a qualidade de vida financeira de nossos colaboradores, somados com benefícios intangíveis que são iniciativas de bem-estar físico e mental. Estudos da McKinsey indicam que culturas organizacionais que priorizam saúde e bem-estar podem aumentar a produtividade em até 20%.
Outro ponto que considero fundamental é a conexão entre colaboradores e o propósito do negócio. Pesquisas recentes da Deloitte reforçam a importância do RH em mediar tensões entre expectativas individuais e objetivos organizacionais, promovendo relações simbióticas baseadas em propósito.
Atrair e reter talentos, por sua vez, exige olhar inovador. Vejo o recrutamento como um processo semelhante à aquisição de clientes: não linear, multicanal e orientado pela experiência. Tecnologias como IA e dados analíticos podem reduzir o tempo de contratação em até 30%, mas a humanização do processo é indispensável. Já a retenção depende de um esforço coletivo das lideranças, que precisam valorizar a escuta, tornar o trabalho agregador de aprendizado e oferecer perspectivas de futuro. A Gallup aponta que equipes com gestores engajados têm até 20% menos turnover, e a Deloitte indica que investimentos em bem-estar e desenvolvimento podem aumentar a retenção em 34%.
Trago também aprendizados práticos. Em uma experiência de reestruturação marcada por alta rotatividade, implementamos um programa de mentoria rápida para jovens líderes. Houve resistência inicial, mas, ao ouvir o time e ajustar o processo de forma colaborativa, conseguimos reduzir o turnover. Esse episódio me ensinou que a construção de equipes de alta performance passa por confiança, comunicação transparente e co-criação. Além disso, a troca com outras lideranças em redes como o Grupo LideraRH da ABRH-MG tem sido fundamental para ampliar repertório e compartilhar soluções para desafios comuns.
Para atuar nesse cenário, acredito que adaptabilidade e plasticidade comportamental são habilidades essenciais. O profissional de Gente e Gestão no varejo precisa ser enérgico, criativo, ágil e empático, equilibrando demandas humanas com metas de negócio.
Olhando para o futuro, o uso de inteligência artificial desponta como tendência irreversível, trazendo ganhos de eficiência e personalização. Relatórios da McKinsey mostram que a adoção de IA pode reduzir custos operacionais em até 15% e aumentar receitas em 10%, ao mesmo tempo em que melhora a satisfação e a lealdade dos clientes em até 20%. Mas é importante destacar que, no varejo, as vendas ainda são motivadas por desejos e necessidades humanas. A tecnologia deve ser uma aliada, não uma substituta, promovendo colaboração entre inteligência artificial e julgamento humano. Pesquisas da Gartner e da Bain reforçam essa visão, prevendo que 95% das interações serão apoiadas por IA até 2025, mas que a confiança continuará sendo construída nas relações humanas.
O futuro do varejo, portanto, dependerá da capacidade das organizações de integrar inovação tecnológica, práticas de bem-estar e culturas fortes orientadas por propósito. E nesse caminho, a área de Gente e Gestão será cada vez mais protagonista na construção de negócios sustentáveis e humanizados.