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O fim dos programas de diversidade das big techs e o impacto na agenda ESG das empresas

O impacto global do recuo das Big Techs em diversidade e o desafio do Brasil em manter a agenda ESG viva no ambiente corporativo.

O anúncio do Google sobre o encerramento de seus programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nos Estados Unidos, feito na última quarta-feira (5), gerou um alerta global. A decisão da gigante da tecnologia, noticiada pelo The Wall Street Journal, acompanha uma tendência observada em outras big techs, como Meta e Amazon, que também reavaliaram suas iniciativas de DEI nos últimos meses.

Mas o que essa movimentação significa para o Brasil, um país onde a diversidade cultural, racial e social está no DNA da sociedade, mas ainda enfrenta desafios para ser plenamente representada no mercado de trabalho? O tema é especialmente relevante em um momento em que as discussões sobre inclusão de mulheres, equidade racial, diversidade de gênero e orientação sexual, além da presença de profissionais trans, estão em evidência.

Para David Braga, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Minas Gerais (ABRH-MG), o cenário é preocupante. Ele acredita que a decisão de empresas como o Google representa um retrocesso não apenas para o ambiente corporativo, mas para a sociedade como um todo. Segundo Braga, essas mudanças refletem tendências políticas internacionais que podem impactar diretamente as agendas de ESG (Environmental, Social, and Governance) das organizações.

“Abandonar o tema da diversidade é um retrocesso para a sociedade. No entanto, é preciso repensar a forma como essas áreas são conduzidas dentro das organizações,” destaca Braga.

O presidente da ABRH-MG aponta que, muitas vezes, as iniciativas de diversidade são lideradas por profissionais com posturas mais ativistas, o que pode gerar conflitos internos e resistência. Para ele, o caminho ideal seria uma abordagem mais educativa, capaz de engajar sem polarizar.

Braga defende que o foco das iniciativas de DEI deve ser a construção de diálogos e a promoção de uma conscientização genuína, sem apontamentos acusatórios que possam afastar colaboradores e líderes.

“Ao invés de conscientizar e construir diálogos, vemos apontamentos de erros, como ‘você demitiu porque ela é mulher’ ou ‘você não contratou porque ele é gay’. Isso não agrega; pelo contrário, segrega,” afirma.

O desafio, segundo ele, é fazer com que as práticas de diversidade estejam integradas de forma orgânica à cultura organizacional, indo além de metas e relatórios. A inclusão precisa ser vista como um valor intrínseco ao negócio e não apenas como uma obrigação institucional ou um diferencial de marketing.

A decisão do Google e de outras big techs de reavaliar seus programas de diversidade pode ter um efeito cascata, impactando a forma como outras empresas — especialmente as multinacionais com operações no Brasil — lidam com suas políticas de DEI. Isso levanta uma preocupação sobre o futuro da agenda ESG, que nos últimos anos ganhou força como um pilar essencial para a sustentabilidade dos negócios.

No Brasil, onde as disparidades sociais ainda são gritantes, a agenda ESG precisa ser mais do que uma tendência; deve ser um compromisso contínuo com a transformação social e o desenvolvimento humano. O risco é que o desmonte de programas de diversidade em grandes corporações crie um precedente para que empresas menores deixem de investir em iniciativas fundamentais para a construção de ambientes de trabalho mais inclusivos.

Apesar do cenário desafiador, especialistas em gestão de pessoas concordam que o compromisso com a diversidade não pode depender exclusivamente de modismos ou pressões externas. Empresas que enxergam a inclusão como um valor estratégico tendem a se destacar em inovação, criatividade e retenção de talentos.

“Diversidade não é sobre cumprir cotas, mas sobre potencializar o talento humano em toda a sua pluralidade,” conclui Braga.

O futuro das organizações depende da capacidade de adaptar-se às mudanças do mercado sem abrir mão de princípios que promovam o respeito, a equidade e a valorização das diferenças. Em um mundo cada vez mais interconectado e diverso, investir em inclusão não é apenas uma escolha ética, mas uma estratégia inteligente para o sucesso sustentável.

David Braga

Presidente da ABRH-MG | CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search

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