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Na crise da mão de obra em BH, pequenas empresas oferecem benefícios para tentar reter funcionários

A falta de mão de obra é uma reclamação permanente do varejo em Belo Horizonte, que ano após ano não consegue preencher todas as vagas abertas. Cada empresa testa sua própria estratégia para atrair e reter funcionários, e mesmo sem o arsenal de Recursos Humanos das grandes corporações, pequenos negócios testam benefícios e mudanças para encontrar trabalhadores.

Com quatro funcionários, além dos dois donos, a loja de destilados Ambix, que funciona no Mercado Central, tornou-se um case internacional neste ano ao ser indicada ao prêmio Excelência e Inovação do World Pension Summit 2025, evento do mercado de aposentadorias e pensões que ocorre na Holanda. A empresa foi reconhecida pelo desenvolvimento de um programa de aposentadoria complementar para os funcionários.

Eles recebem mensalmente um investimento em títulos do Tesouro Nacional RendA+. Criado pelo Tesouro Nacional em parceria com a Bolsa de Valores brasileira, a B3, e a Secretaria de Previdência (SPrev), o cartão digital garante uma renda extra na aposentadoria a partir de investimentos mensais. Funciona assim: a empresa adquire um gift card (cartão de presente) para os empregados, investe um valor mensal e, quando se aposentarem, os funcionários poderão retirar um valor complementar à aposentadoria todos os meses. Todos os meses, a Ambix investe R$ 80 para cada funcionário — em uma simulação considerando alguém de 30 anos que planeja se aposentar aos 60, isso renderia R$ 650 mensais em 2055.

A ideia da implementação partiu da filha dos donos da Ambix, a consultora de investimentos Natália Cysne. “O gift card não precisa de intermediários. As grandes empresas conseguem contratar fundos de pensão, mas o RendA+ é uma inovação global, porque é um título de renda fixa emitido pelo governo e tem uma previsibilidade maior na renda do que outros tipos de produto”, explica ela.

“É um benefício a mais que a loja fornece, uma forma de ajudar no futuro e sem desconto na folha de pagamento”, complementa um dos sócios da empresa, Marcos Cysne. Ele reconhece que dificilmente um pequeno negócio terá o maior leque de benefícios no mercado, então aposta em outras vantagens para os funcionários para competir com a concorrência.

“Na escala 6×1, as pessoas têm só um domingo de folga por mês, mas nós damos dois. Temos um programa de comissão salarial maior, que valoriza o trabalho individual e coletivo. Tentamos formar pessoas com o espírito da empresa, de trabalhar com qualidade e respeito com todos os que passam lá dentro. Sempre pagamos treinamento de vendedor, de degustação de bebidas e de gerência”, diz o empresário.

Alternativas para os pequenos

Mesmo em pequenas lojas sem recursos para investir em benefícios robustos, detalhes ajudam a aumentar o engajamento dos funcionários, pondera a vice-presidente do braço mineiro da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-MG), Renata Santana.

“As margens de lucro do varejo são mais apertadas, por isso os empresários têm mais resistência aos benefícios. Mas há coisas simples que não demandam investimento. Fizemos um estudo há alguns anos, e um ponto que melhorou a retenção foi ter um dia de folga no aniversário, por exemplo. Os programas de bem-estar não dependem de dinheiro, ajudam contra o absenteísmo e que as pessoas se sintam bem”, diz Santana.

Ela sublinha o papel da liderança em engajar os funcionários para não perdê-los. “É preciso desenvolver uma percepção de cuidado. Em uma pequena empresa, o líder está preocupado em sobreviver àquele dia, mas a sobrevivência depende das pessoas. Os líderes precisam ter essa visão mais humanizada e respeitosa, porque isso reverbera em lucro financeiro”, prossegue.

Ela avalia que os benefícios podem ajudar a solucionar problemas da própria empresa. Em uma loja que sofra muito com faltas, pode haver uma premiação por presença, exemplifica a especialista. “Vale a pena compreender o que os benefícios podem trazer para empresa. Os próprios programas se pagam”, conclui.

Gabriel Rodrigues

Gabriel Rodrigues

Jornalista formado pela UFMG, passou pelo jornal Estado de Minas, foi trainee da Folha de S.Paulo e faz parte de O TEMPO desde 2019. Hoje especializado em atualidades e economia, cobriu a pandemia de Covid-19 desde o começo da crise e também tem experiência em cobertura de cultura, saúde e população LGBTQIAPN+. Vencedor de um prêmio MPT de Jornalismo, do prêmio Boehringer Ingelheim e finalista do prêmio CDL/BH.

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