A chamada cultura woke surgiu para ampliar a consciência social e dar voz a grupos historicamente sub-representados. No entanto, quando levada ao extremo, pode gerar efeitos colaterais: polarização, medo de se expressar livremente por receio de “cancelamento” e, no ambiente corporativo, a transformação do tema em discurso e marketing sem mudanças reais.
Abolir a cultura woke não é a solução. O caminho é mudar o foco. Existem valores legítimos — como dignidade, combate à discriminação e acessibilidade — que precisam ser preservados. O que deve ser corrigido são os excessos: moralismo, intolerância ao dissenso, cancelamentos e ações meramente simbólicas.
A saída está em substituir slogans por princípios e resultados: manter o que gera impacto positivo, como iniciativas de inclusão com métricas claras, e descartar o que apenas atrapalha, como patrulhas e hashtags sem efeito concreto.
Com o uso cada vez mais difuso do termo, proliferam distorções. Uma delas é a intolerância ao dissenso, em que erros de linguagem ou opiniões incômodas são punidos com linchamentos digitais e boicotes, alimentando a autocensura e empobrecendo o debate.
Outra são os gestos meramente simbólicos — campanhas, treinamentos protocolares e metas mal desenhadas — que geram aparência de ação, mas pouco impacto real em áreas como contratação, promoção, segurança psicológica, acessibilidade ou redução de desigualdades.
Para sair desse lugar, é preciso princípios claros, diálogo e métricas de impacto: acolher ideias diferentes, garantir liberdade de expressão com responsabilidade, medir o que de fato gera resultado e cumprir o que se promete.
Evidentemente, é possível discordar com respeito e ainda assim manter o foco no essencial. Afinal, o que importa são mudanças concretas que melhorem a vida das pessoas — para que inclusão deixe de ser apenas um slogan e se traduza em práticas consistentes
A hostilidade à cultura woke cresceu porque muita gente vê moralismo demais e resultado de menos. A solução não é abandonar DEIA (Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade), e sim sair do discurso e entregar.
Trate DEIA como gestão, ou seja, problema claro, metas objetivas, responsáveis definidos e orçamento. O foco não é militância, e sim segurança psicológica, retenção, inovação e marca empregadora; indicadores que afetam o negócio.
Cultura muda com prática, não com slogan. Para isso, as empresas precisam investir em habilidades concretas — como Comunicação Não Violenta, escuta ativa e gestão de conflitos —, adotar um código de conduta que critique ideias e não pessoas, orientar líderes no uso das redes, moderar canais internos e divulgar um painel trimestral com progresso real.
É menos fala e mais coerência; menos “mi mi mi” e mais processos, dados e comportamentos no dia a dia. A diversidade e a inclusão só fazem sentido quando melhoram a vida das pessoas e os resultados da empresa.
Essa agenda não concorre com a geração de valor, pelo contrário: reforça. Times diversos e ambientes seguros ampliam repertório, reduzem retrabalho e aumentam a qualidade das decisões, produtos e serviços. Inclusão e acessibilidade também abrem mercado, pois permitem compreender melhor públicos distintos, evitam crises de reputação e atraem talentos qualificados.
Quando transformada em processo — com metas, responsáveis e métricas — essa prática ganha consistência e previsibilidade. Como resultado, impacta diretamente os pilares que sustentam os empregos: receita, produtividade, inovação e satisfação do cliente.
Também é hora de abandonar a caricatura que demoniza capitalismo, empresários e empresas. Negócios saudáveis pagam salários, tributos, investem em inovação e sustentam cadeias inteiras de fornecedores. No entanto, sem lucro, não há perenidade nem orçamento para políticas internas de inclusão.
O debate maduro cobra coerência e resultados, não slogans: competição limpa, governança, responsabilidade socioambiental e DEIA como estratégia; para prosperidade com dignidade. Menos rótulo, mais entrega: quando empresas geram valor e tratam pessoas com respeito, quem ganha é a sociedade.
O convite é trocar discurso por coerência e patrulha por diálogo. Que cada decisão, da contratação à comunicação responda à mesma pergunta: isso respeita pessoas e cria valor? Se a resposta for “sim”, o resto é barulho.