Coaching: mergulho em um mar de possibilidades

“O essencial é invisível aos olhos”.
Exupéry

*Por Sônia Mara de Oliveira

 

Convido você a refletir sobre coaching, metodologia que movimenta o mercado mundial em milhões de dólares e que no Brasil tem crescido cada vez mais.

Falar de um processo que ocorre quando um profissional deseja adotar novas formas para lidar com as situações, redirecionar a sua vida ou carreira, relacionar-se melhor com as pessoas, enfim, alcançar metas é no mínimo desafiador. Trata-se de um exercício de redescoberta e que, sem perceber, adentra em um mundo complexo e, ao mesmo tempo, maravilhoso. A analogia é como se coach e coachee fizessem “mergulhos num mar de possibilidades” e como tal imprevisível e revelador.

Algumas pessoas dizem: “nossa, como não havia percebido isto antes?”. “O meu chefe diz que mudei, mas não sei como isso aconteceu!”. Acredito que as interrogações ou exclamações façam parte da magia da transformação.O que se pode concluir é que existe dentro de cada pessoa o problema e várias formas de solução, basta ampliar o olhar e escolher aquela mais adequada.

Sabe-se que para sobreviver, o ser humano escolhe no seu “arquivo mental”, comportamentos aprendidos e que surgem automaticamente ao lidar com as diversas situações. Muitas vezes, não são os mais adequados, mas foram os mais exercitados. Complexo, mas plausível. Qual a saída mais comum e cômoda? Buscar culpados ou se sentir impotente diante dos insucessos. Essa é a lógica de quando uma pessoa chega à primeira sessão de coaching que, lembrando o professor e autor Leonardo Wolk, estão repletos de desculpas tranquilizadoras.

Tranquilizadora no sentido de ser uma justificativa que contribui para que o coachee continue na zona de conforto.
Mudança exige esforço, determinação, persistência, mas essencialmente a capacidade para lidar com o imprevisível. Na maioria das vezes, a situação se torna insuportável e a possibilidade da perda de referências impele o coachee para a busca de um profissional que possa ajudá-lo a enfrentar o desafio do autoconhecimento e da descoberta do seu potencial.

A partir do incômodo, o processo de coaching se torna uma das alternativas para mudança, o que exige disposição e força de vontade para sair do automatismo. É preciso que exista um desejo genuíno para que o “mergulho” aconteça.
E para isso é necessário que se estabeleça uma relação de confiança entre coach e coachee. Acolhimento, respeito e empatia tornam-se fundamentais.

Lembro que coaching não é aconselhamento, mas é um processo de aprendizagem e de autodesenvolvimento. E o aprender acontece quando o aprendiz se dispõe a ir além dos modelos praticados. O coach acolhe, estimula, acredita no potencial do coachee, desafia e comemora as etapas vencidas, fortalecendo a autoestima. Ele contribui para que o coachee potencialize a força que existe dentro dele, que é invisível aos olhos, mas que está presente desde o seu nascimento. A essa força dou o nome de potencial.

O exercício da escuta ativa despojada de julgamentos, por parte do coach, cria condições para o coachee assumir responsabilidades por seus atos, indo além das respostas costumeiras, aprofundando no mar das possibilidades. O mais interessante é que ele, na maioria das vezes, busca respostas, mas se depara com perguntas “poderosas”, que o faz pensar, refletir e aprender a aprender. Neste momento, o processo de aprendizagem começa a ocorrer. Ele aprende a ver a situação pela magia da pergunta e das respostas que surgem, do seu inconsciente, mesmo sem nunca ter pensado nelas.

Citando Rubem Alves, “a palavra faz emergir, do silêncio, aquilo que ela invocou. Um infinito e silencioso teclado que poderá tocar dissonâncias sem sentido, sambas de uma nota só, ou sonatas e suas incontáveis variações.”

A este processo mágico pelo qual as respostas despertam possibilidades adormecidas se dá o nome de coaching, o qual se concretiza quando o coachee, a partir, das suas reflexões sobre o conhecimento acumulado, da análise do seu perfil associado às demandas do mercado (análise do contexto) e da identificação dos modelos mentais funcionais e disfuncionais (esquemas) define aonde deseja chegar. O coachee pode descobrir que estava seguindo um caminho equivocado e redirecionar as suas ações, estando mais consciente devido, principalmente, ao apoio terapêutico. Trata-se de um exercício de empoderamento, o coachee assume as rédeas da sua vida, sendo mais autoconfiante e autônomo.

Além disso, a estruturação do foco através do desenho da carreira e das outras áreas da vida contribui para que o coachee concentre toda a sua energia e esforço aonde deseja chegar. Ressalto que, segundo estudo divulgado pelo periódico científico Journal of Neuroscience, o cérebro enfraquece sua reação deliberadamente perante tudo o mais, de modo que, comparativamente, o alvo de interesse ganha destaque. O mais curioso: é que fazemos isso sem sequer perceber (inconscientemente).

Assim, o coachee se prepara para nadar e desfrutar da beleza e ao mesmo tempo, dos perigos do oceano, ora mergulhando, ora boiando, mas sempre, ampliando as possibilidades. Está consciente das suas forças, mas também das suas fraquezas, entende o contexto, identifica as oportunidades e calcula os riscos. A partir daí, parte para alcançar outros mares ou aprofundar no que já existe. Torna-se uma pessoa mais consciente e não diferente, porque a sua essência continua a mesma, inesgotável. Para o coachee novas possibilidades e para o coach novos desafios, aprofundando-o também no seu mar de possibilidades.

Para encerrar, cito o professor de literatura Fernando Teixeira de Andrade:

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas.
Que já têm a forma do nosso corpo.
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares…
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la,
Teremos ficado, para sempre,
À margem de nós mesmos.”

*Sônia Mara de Oliveira é psicóloga, coach e terapeuta.

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