Coaching: como se diferenciar em um mercado banalizado?

“ … Hoje em dia, proliferam as empresas que credenciam profissionais como coaches…. O certificado de coach é entregue após 64 h de especialização. Ao término o candidato está supostamente apto a lidar com a demanda recebida dos clientes”.

Ao encontro de Si Mesmo, de Adriana Netto

*Por Rosangela Pedrosa

Essa descrição ilustra bem o cenário atual do mercado de coaching – e não são poucos os clientes que perguntam como eu faço para me diferenciar neste mercado cada vez mais banalizado. Oficialmente, não há nada de errado em se apresentar como coach com esta formação mínima exigida. Ao finalizar o primeiro curso de coaching, há cerca de 10 anos, nós alunos fomos todos estimulados a iniciar, imediatamente, a nova profissão, pois a convicção transmitida não deixava dúvidas: éramos coaches.

Mas 64 horas de formação é realmente suficiente para transformar alguém em coach? Logo no meu primeiro atendimento pró-bono — exigência para a obtenção do certificado de conclusão do curso —, me senti pouco preparada para conduzir as sessões e escolhi este caso para ilustrar as dificuldades do coach. Iniciante. Vale destacar que, apesar de estar iniciando os atendimentos em coaching, eu já possuia uma vida profissional em educação de executivos de mais de 18 anos Fundação Dom Cabral, já era formada em psicologia e tinha uma experiencia de vida e profissional bastante consistente.

Após algumas sessões do primeiro cliente, ficou cada vez mais claro que seguir os passos ensinados que pareciam ser simples, era na verdade um desafio! Toda sessão de coaching deve incluir um plano de ação: Lição aprendida; missão cumprida! Assim, em uma das sessões o cliente decidiu buscar feedback da sua gestora para ter uma avaliação mais completa do seu desempenho. Ele saiu muito satisfeito e confiante com sua decisão de ação. Obviamente, eu também!

Ao retornar em sua próxima sessão, segui o passo a passo do processo e iniciei com o resgate das aprendizagens da aplicação da ação. Fácil, não? Definitivamente, não! A experiencia da coleta do feedback com a gestora foi um desastre e abordar isto na sessão foi muito difícil tanto para o cliente quanto para mim como coach. A gestora deu um feedback contaminado com adjetivos depreciativos, não exemplificou com dados e fatos a percepção dela e, o mais pesado, apresentou uma visão totalmente oposta à que o cliente tinha sobre si mesmo! Aquilo não estava nos manuais! Como lidar com a frustração, ansiedade e fortes emoções do cliente? Como conduzir a sessão sem ter tido a oportunidade de aprender mais sobre situações difíceis e conflitantes durante o curso? Vale relembrar que assim que iniciei os atendimentos éramos levados a acreditar que estávamos preparados para atuar.

Deparar com esta experiência mostrou-me uma realidade muito diferente dos processos que aprendi na formação inicial. Foi um super desafio! A teoria, o passo a passo e as ferramentas iniciais não foram suficientes. Conclui que precisava aprofundar mais minha formação em coaching, buscar mentoria e supervisão, antes de dar continuidade à prática profissional do coaching. Procurei escolas credenciadas ao Iinternational Coaching Federation, mentoria e todos os passos necessários para que eu pudesse obter construir uma trajetória séria e ética.

Somente após finalizar uma formação que me permitiu assimilar a diferença entre SER coach e ter feito um curso de coaching é que retomei meus atendimentos já tendo como meta obter uma das credenciais da ICF. Hoje como PCC – Professional Certified Coach, credencial que exige dentre outros criterios, 750 horas de atendimento —, busco contribuir para que o mercado possa cada vez mais diferenciar os profissionais que buscam uma capacitação séria e comprometida com padroes de excelencia. Cursos de massa, que colocam a ênfase na aplicação de ferramentas, não nos preparam para lidar com as complexidades e particularidades do ser humano. Hoje quando olho para o mercado, me assusto com tanta propaganda prometendo soluções rápidas e quase milagrosas. Questione, avalie, converse com profissionais seniores e faça uma caminhada profissional se deseja leva a sério esta profissão. Se juntos não fizermos parte deste movimento, em breve podemos destruir uma atividade primordial para o crescimento dos nossos clientes que já demonstram ceticismo. Vale destacar que a profissão coach é jovem e ainda não foi regulamentada e que a International Coaching Federation (ICF), apesar de validar a formação de 64h, trabalha fortemente para a sua profissionalização. A ICF possui três níveis de certificação estabelecidos – Associate Certified Coach (ACC), Professional Certified Coach (PCC) e Master Certified Coach (MCC) – e recomenda que o mercado contrate apenas profissionais credenciados e atua fortemente na formação continuada dos seus associados. Profissionais com maturidade, experiencia e postura ética vão muito muito além da formação mínima exigida para atuar como coach.

Aprofundam continuamente seus conhecimentos em escolas reconhecidas pela seriedade e alinhamento com padrões mundiais como os definidos pela ICF, investem com afinco em seu autoconhecimento, buscam mentoria e supervisão, para que possam, assim, exercer com competência esta profissão. Espero contribuir para que clientes possam ser rigorosos na contratação de coaches, fazendo uma análise da formação, das credenciais e da experiência dos profissionais que contratam. E que os profissionais que pretendem se tornar coachespossam buscar uma formação consistente e de qualidade. Juntos, profissionais e clientes podem contribuir para elevar o nível de competência desta profissão tão relevante para o desenvolnvimento das pessoas.

*Professional Certified Coach – PCC /ICF,  consultora na área de desenvolvimento de pessoas e liderança e professora associada da Fundação Dom Cabral.

Posts Relacionados:

Vencedores Prêmio Ser Humano MG 2022

Conexões Humanas 2022

Segurança Psicológica: Chave para o Aprendizado e Inovação?

ABRH/MG Talks: Metaverso no mundo do trabalho

Deixe seu comentário abaixo:

MENU