Artigo | Felicidade x fatores externos

Neste artigo, o consultor Rubens Sakay, que atua como senior advisor na Schlumberger Business Consulting, fala da importância de discernir a ligação entre felicidade e os fatores externos, o que vale tanto para a vida pessoal como para a profissional. Acompanhe:

FELICIDADE: A BOLA ESTÁ NA SUA ÁREA

Não há nada tão equivocado quanto atar a felicidade às circunstâncias e aos elementos externos a cada pessoa. Sabemos pelas conclusões científicas que apenas dez por cento da nossa felicidade é explicada pelos fatores externos, às circunstâncias em que vivemos.

O cheiro do carro novo desaparece muito rapidamente. O prêmio financeiro que recebemos no final do ano é esquecido na mesma velocidade em que damos a ele um destino.

E o mais surpreendente é que esses dez por cento constituem um alvo móvel difícil de acertar, basta analisar os erros e acertos nas iniciativas para tornar o empregado mais feliz. Isso vale também para o nosso familiar, e para nós mesmos. Somos confundidos pelos sinais e informações que recebemos da própria pessoa que será o recipiente do benefício. Esse aspecto móvel das influências circunstanciais foi brilhantemente revelado por Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, justamente por suas contribuições nessa área.

Por outro lado, quarenta por cento da explicação da nossa felicidade está na nossa intencionalidade: a maneira como nos posicionamos diante do mundo, como lidamos com as nossas emoções, como nos levantamos quando caímos, e como explicamos para nós mesmos as coisas que não encontramos explicação, e é desse lado que abre a chave da felicidade.

A despeito da ciência, atribuir um expressivo peso à herança genética (cinquenta por cento), hoje sabemos que o esforço que fazemos no campo da intencionalidade, assumindo uma atitude positiva diante da vida, provoca o efeito epigenético (epigenetic), que significa a expressão do gene sem a alteração do DNA. Tal efeito pode influenciar a nossa saúde, bem-estar e felicidade.

Aquilo que o conhecimento corriqueiro tem alardeado, de que o pensamento pode influenciar os aspectos bioquímicos e fisiológicos do nosso organismo, é cada vez mais explicado por diversos ramos da ciência, incluindo a florescente ciência chamada epigenética.

Outro aspecto que interessa particularmente às empresas e às áreas de recursos humanos, é que o esforço que as instituições fazem no campo das circunstâncias é potencializado pelo esforço individual de crescimento pessoal. O resultado é mais ou menos previsível: pessoas felizes que trabalham em instituições que abrigam práticas de recursos humanos que se encaixam com o seu esforço de transformação.

Essa transformação de dentro para fora, na definição de Martin E.P. Seligman, o mais expressivo cientista da felicidade, é o florescer humano, muito bem expresso no seu livro Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar.

Em suma, não estamos condenados pela herança genética, nem devemos nos sentir prisioneiros das circunstâncias externas quando tratamos da própria felicidade. Devemos refletir nisso quando gerenciamos pessoas, educamos os nossos filhos e especialmente quando fazemos as próprias escolhas e damos os nossos passos na nossa jornada de crescimento pessoal.

Qualquer pessoa pode se tornar uma pessoa melhor e mais feliz, e essa capacidade pode ser ensinada e aprendida, e cito a resposta dada por Seligman a Anna Paula Buchalla, em entrevista à revista Veja, em 10 de março de 2004, quando perguntado se é possível ensinar alguém a ser feliz. “É justamente esse o objetivo do meu trabalho: ensinar as pessoas a serem felizes e como intensificar essa felicidade. A mais agradável das tarefas de um pai – e eu diria que é até a principal – é desenvolver os traços positivos em seus filhos, em vez de apenas tentar apagar os negativos. É isso que garante às crianças os recursos para que se tornem adultos produtivos, equilibrados e satisfeitos. Felizes, enfim”.

Difícil fechar o artigo depois de tão clara assertiva, mas me valendo do clima esportivo deste ano, digo para todos que, que a bola está na sua área – chute e faça gol.

*Texto originalmente publicado no jornal Assunto:RH, edição de março de 2014.

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